Na última semana, a mídia indiana revelou que a Força Aérea Brasileira (FAB) estava interessada no caça HAL Tejas. A informação foi confirmada pelo próprio Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, que em entrevista afirmou que o pequeno caça a jato da Índia está entre as opções para complementar o F-39 Gripen.
A fala do Brig. Damasceno vem meses após a própria FAB confirmar que está estudando a aquisição de caças F-16 Fighting Falcon usados, dos estoques dos Estados Unidos, assunto que também chamou atenção.
“De acordo com nossas regras, deveríamos ter não menos de dois e não mais de três tipos de aeronaves de combate. Atualmente temos o F-5 e o Gripen, mas depois de 2030, precisaremos de mais dois tipos com a baixa dos F-5”, disse o militar em entrevista ao portal Times Now News, da Índia. Ao mesmo site, Damasceno afirmou que também existe interesse em helicópteros de combate.

Breve história
Em um mundo dominado por modelos estadunidenses, europeus e russos, o nome Tejas acaba não sendo tão conhecido. O caça é fruto do programa Light Combat Aircraft (LCA), criado pela Força Aérea Indiana (IAF) no início dos anos 1980 para substituir o MiG-21 Fishbed.
Na época, a Índia já tinha adquirido experiência no desenvolvimento de jatos de combate, como o caça supersônico Marut e o treinador Kiran, além da produção de modelos sob licença, incluindo o Ajeet (versão do britânico Gnat), Jaguar e os MiGs 21 e 27. Desenvolvido na URSS na década de 1950, o MiG-21 formava o “grosso” da frota de caças da IAF, que chegou a ter mais de 800 destes aviões em atividade. Mas olhando para o longo prazo, os indianos sabiam que precisavam de um substituto.

Em 1984, a Índia criou a Agência de Desenvolvimento Aeroespacial (ADA), um braço da Organização de Pesquisa e Desenvolvimento em Defesa (DRDO), para gerenciar o programa LCA. Em paralelo, o DRDO buscou apoio da Dassault para o trabalho. Mais tarde, a estatal Hindustan Aeronautics Limited (HAL) foi contratada para fabricar o LCA; o desenho da aeronave foi concluído em 1990.
Em serviço, com alguns problemas
Concluída a fase de desenho, a Índia focou no projeto do Fly-By-Wire e do radar multimodo nacional, encontrando mais problemas no desenvolvimento do segundo item. Em 04 de janeiro de 2000, o primeiro demonstrador de tecnologia do LCA fez seu primeiro voo; cinco anos depois, a Índia só havia obtido dois modos funcionais para o radar.
Ao longo do desenvolvimento da aeronave, os indianos encontraram vários desafios, mas o Tejas foi recebendo cada vez mais componentes de origem local, aumentado a independência tecnológica do país. Porém, alguns itens importantes ainda são de outros países, como seu próprio motor, o F404 da General Electric, o mesmo usado no F/A-18 Hornet e no Saab JAS-39 Gripen. Dentro do programa LCA estava prevista produção de um motor nacional, o GTRE Kaveri, mas seu projeto foi cancelado.

Em 2011, o Tejas obteve seu certificado para operação inicial, permitindo o começo de sua introdução ao serviço com a Força Aérea. Três anos depois, começou a campanha para obter capacidade operacional plena, com testes de reabastecimento em voo e emprego de mais armamentos. Em 2016, o Esquadrão 45 da IAF se tornou o primeiro a receber os Tejas, substituindo seus antigos MiG-21 pelo novo modelo, designado Tejas Mark 1.
Inicialmente, a IAF encontrou problemas na introdução da aeronave. Na época, o Controlador e Auditor Geral da Índia (CAG) destacou 53 deficiências significativas, que reduziram suas capacidades operacionais e de sobrevivência, como o baixo alcance, a falta de um radar de varredura eletrônica e um interferidor.
Mark 1A
Para aprimorar o avião e corrigir as falhas apresentadas pelo CAG, foi desenvolvido o Tejas Mark 1A, apresentado no início deste ano. A aeronave incorpora uma série de melhorias, incluindo o radar de varredura eletrônica ativa (AESA) ELTA EL/M-2052, a suíte de guerra eletrônica Angad, cabides duplos e cockpit remodelado. Também é mais leve que seu antecessor, por ter maior presença de materiais compósitos e fibra de carbono em sua construção.
Apesar das promessas, o Mark 1A ainda não foi entregue à IAF: com atrasos no recebimento dos motores F404, a entrega do caça, que estava prevista para março, foi adiada para novembro de 2024. Ao todo, 97 Tejas Mark 1A foram encomendados.

A partir dos dados coletados com os Tejas Mark 1 e 1A, o DRDO vai desenvolver o Mark 2, uma espécie de versão definitiva do caça. O novo Tejas tem seu primeiro voo previsto para 2025 e vai incorporar o motor F414, canards, sensores mais avançados e aumento na capacidade de armas. O Tejas Mk2 também é parte do programa Medium Weight Fighter (MWF), que busca o desenvolvimento de um caça de médio porte para a IAF.
Em 2021, o Ministério da Defesa da Índia descaracterizou o Tejas como o substituto do MiG-21, colocando o caça como parte de uma grande modernização da IAF.
O que é o HAL Tejas?
O Tejas é um pequeno avião de caça supersônico, multimissão, que está em serviço apenas com a Força Aérea da Índia e que não obteve clientes de exportação até o momento. Em paralelo, uma versão naval também é desenvolvida e já foi testada em porta-aviões. Em tradução livre, o nome Tejas significa “Brilho”.
Fabricado pela HAL, o caça possui 13 metros de comprimento e oito de envergadura. É alimentado por um único motor turbofan GE F404, que leva a aeronave à velocidade máxima de Mach 1.8, ou cerca 2200 km/h. Conforme a mídia indiana, cada unidade do Tejas Mark 1A tem um custo unitário avaliado em US$ 37,8 milhões.
Ao todo possui nove pontos duros nas asas e fuselagem para carregar bombas, mísseis, tanques de combustível e equipamentos de designação de armamentos e interferência eletrônica. Também carrega um canhão automático GSh-23, calibre 23mm, fabricado pela Rússia. Atualmente está certificado para empregar diversos materiais bélicos, incluindo o míssil Derby e as bombas inteligentes Spice, já adquiridos pela Força Aérea Brasileira.
Tejas na FAB
Agora, é importante destacar: a FAB não está comprando o Tejas. Até o momento, o Comando da Aeronáutica só assinou a compra dos 36 Gripens, dois quais já recebeu oito e está próximo de ter mais um F-39. Em paralelo, a FAB negocia a aquisição de mais destes caças, através de um aditivo contratual do acordo assinado em 2015 com a Suécia.
Porém, como mencionado pelo Comandante da Aeronáutica, está nos planos da Força Aérea Brasileira ter uma frota de aviões de caça com mais de um modelo. Atualmente, são sete F-39E Gripen, entre 30 e 40 caças F-5 Tiger II e cerca de 11 caças-bombardeiros A-1 AMX em serviço. A FAB tem urgência em encontrar um substituto para os AMX, que serão aposentados em 2025. A hora da baixa também se aproxima para os F-5, que devem deixar o serviço em 2030.

Ao mesmo tempo, a FAB tem acompanhado o governo brasileiro em sua aproximação com a Índia. Além do BRICS, Brasil e Índia tem falado cada vez mais em parcerias militares. Reflexo disso é o interesse do Exército Brasileiro pelos mísseis antiaéreos Akash e da FAB pelos mísseis de cruzeiro Brahmos.
Por fim, a visita do Brigadeiro Damasceno também teve foco na venda dos cargueiros táticos KC-390 para a IAF. O jato da Embraer tem conquistado vários clientes e disputa na Índia um importante contrato de até 80 aeronaves. “Comparado com o C-130, o C-390 é mais rápido e carrega pelo menos a mesma carga. Estamos oferecendo isso à Índia e os Memorandos de Entendimento com a Mahindra já foram feitos. Até agora, seu nível de operacionalidade é superior a 97%”, afirmou o Comandante da FAB.